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Sempre tem um cachorro nas redondezas que é considerado matador e, justamente quando os meus dias não começam direito eu lembro desse fato, levanto as mãos para os céus e dou graças a Deus por não ser esse meu caso. Cara, se estava difícil me manter vivo dentro de casa sozinho, realizar tal feito acompanhado de um doberman-vailer gigante em campo aberto é missão inimaginável (talvez por isso não faça parte desse conto), sem contar que vermelho sangue não combina com o lado exterior da minha pele.
O ponto de ônibus vazio, a não se por minha presença, mostra que já é tarde para sair de casa cedo e o ônibus, igualmente vazio, me faz pensar que meu atraso será um pouco maior que o imaginado anteriormente. Há uns vinte anos atrás, pegar ônibus saindo de um pequeno bairro da Baixada Fluminense, onde fica localizada minha humilde choupana, em direção ao Centro da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro era impossível. Mas em dias que as distâncias foram "encurtadas", já não são poucos os coletivos que circulam fazendo esse trajeto, como não são poucos os moradores que fazem uso desse meio a fim de chegar ao trabalho. O detalhe consiste que quem sai de onde eu moro para ir ao Centro do Rio geralmente tem que sair de casa antes do sol anunciar-se no horizonte. O que me leva ao meu bendito pé esquerdo que, com sua relutância em manter-se em espera dando a preferência ao direito, influenciou de maneira retrograda o meu dia me fazendo acordar tarde. Em fim, o caminho é longo e eu pretendendo recuperar a noite interrompida, adormeço e, consequentemente, não vejo o caminho que o motorista toma e acordo aos cutucões de um senhor e contemplo o mar. Num primeiro momento fico muito feliz por ser este o exato sonho que estava tendo antes de ser avisado do fim do tempo de dormir pelo despertador, mas depois de uns três segundos o desespero toma conta de minha mente e eu só consigo pensar em um culpado: tenho mesmo que dizer?
Eu saí de casa por volta das oito da manhã, deveria estar no Centro do Rio às nove da manhã, acordei no posto nove da Barra da Tijuca às dez e quarenta e cinco da manhã. ligo novamente para a repartição, quem atende é uma amiga, Luiza:
-O chefe ta doido atrás de você! - eu inconscientemente olho para traz pra saber se é literalmente que ela está falando - quer saber do relatório de sexta-feira.
-Ele ta aí? - não me contive.
-Não, ta na Prefeitura, reunião com o secretário.
-Isso me dá tempo, em uns trinta minutos to chegando, se alguém perguntar to a caminho. quanto ao relatório diz que está a caminho junto comigo.
Desligo o telefone antes de me despedir e pego o primeiro ônibus em que consigo ler as palavras Centro e rápido no mesmo letreiro é claro que o transito da Barra não conhece ainda a palavra “rápido” e trinta e cinco minutos depois dos quarenta e cinco dou as caras na Candelária, Pç. Pio X pra ser mais exato. Puxo o crachá da mochila, prendo na blusa, entro no prédio, chamo o elevador. Lá em cima, no sexto andar, uma porta verde, atravesso-a, do outro lado uma meia dúzia de não-fazem-nada me olhando de cima a baixo com aquela cara de "isso são horas?". "Você está bem?" e "você está vivo?" são perguntas que respondo com um seco aceno de cabeça. Corro para meu cubículo, no computador, um papelzinho cor-de-rosa onde pude ler: "ligar para o chefe" é minha sentença assinada por um "L" tão familiar. Disco os números, toca uma, duas, três, toca umas oito vezes e o homem não atende e assim se repete por cerda de três tentativas até que por fim ouve-se a voz do outro lado, sóbria, séria, imparcial e com um toque de "eu, o senhor teu deus".
As instruções são simples: tirar o arquivo do pen drive que estava comigo, fazer as alterações solicitadas pelo chefe e mandar por email par ele, depois era só sair para o almoço, e se quisesse eu não precisava nem voltar. Mas estava tudo muito simples, nada aparentemente poderia dar errado, exceto é claro eu esquecer o pen drive com o arquivo e ter que fazer todo relatório de novo, não era mesmo meu dia!
O telefone não parou de tocar nas duas hora posteriores à ciência do fato de eu ter esquecido o arquivo em casa e, todas as vezes que eu atendia era o mesmo blá, blá,blá de sempre: “você esta demorando demais com esse relatório, você já deveria vir com isso pronto para me entregar, você esta a ponto de perder seu cargo. “ eu isso, eu aquilo e aquilo outro e por aí foi o desenrolar do meu dia até que terminei e enviei o bendito relatório. Nem todo mundo entende que as conseqüências de acordar e, infortunadamente, lançar o pé esquerdo na frente do direito. Ao menos não recebi mais telefonemas depois do trabalho proto
No almoço correu tudo bem e não tive problema nenhum durante o restante do dia de trabalho. Existem algumas coisas que todo mundo espera enquanto trabalhador as principais são: a folga o salário e o fim do expediente, a morte do chefe ou uma gorda promoção são importantes também, mas não são tão desejadas quanto aquelas. Bateu o sinete tão aguardado e, pra meu prazer, fui embora.
Tem um terminal de ônibus na Praça Mauá que muita gente não conhece, muita gente não conhece nem a referida praça, mas em fim, é onde eu pego minha condução para voltar à minha querida moradia. É um lugar um pouco gasto pelo tempo e que mantém a arquitetura em estado deplorável, mas como não vão àquele lugar para fazer turismo, ninguém se importa muito com conservação, iluminação, banheiro ou seja lá com o que for. É também um lugar onde as profissionais do sexo são muito abundantes e proliferam os nigth clubs. Nunca me importei com isso, até por que nunca me incomodaram, nem para oferecer serviços nem tentaram me aliciar como garoto de programa. Até que estava eu na fila do ônibus e sinto as mãos pesadas de alguém me chamando, quando me virei não vi mais nada, só lembro de ter me deparado com o rosto no chão e ter na minha frente um par de grandes sapatos muito bem lustrados com um negão de uns dois metros calçando-os.
Chamaram uma ambulância, provavelmente um dos vendedores de doces e me contaram depois que eu estava devendo àquele distinto senhor certa quantia pelos serviços de uma de suas meninas e ele decidiu me lembrar. O detalhe é que nunca pedi solicitei serviços às meninas dele e juro que nunca me envolvi com o mercado sexual, confesso que por falta de coragem e dinheiro, mas o que importa é que apanhei por uma dívida que não era minha e com o rosto com, cinco pontos no super cilho, dor nas costelas e menos um dente fui para casa.
Moído de dor por todo corpo, sem dinheiro que, a propósito, foi levado pelo negão que só me deixou o vale transporte porque não viu no bolso, com uma possível transferência para um posto avançado da prefeitura em um morro desses da vida onde, provavelmente, vou ter como vizinho o dono do morro entrei em casa e fui direto para o banheiro tomar um banho. Acabou a água, sem muita escolha, fui dormir só que com o pé esquerdo amarrado para não se meter mais na frente do direito.
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ke ki tu axô...