sábado, 3 de outubro de 2009

Com o pé esquerdo (1)

Tem dia que agente não acorda muito bem. É a impressão de que a noite durou menos, aquela dor de cabeça que você não sabe de onde vem e a vontade de dormir até mais tarde dispensa comentário. Geralmente essas manhãs cooperam para tornar o restante do dia mais uma espécie de castigo memorável do que, propriamente, produtivo. Quando acordamos assim o que de pior se pode fazer é começar o dia com o pé esquerdo. E esse negócio é sério acontece muito comigo, a última vez foi segunda feira.


Acordei muito a contra gosto, o dia estava meio chuvoso e eu não queria deixar sem uma boa briga comigo mesmo o mundo dos sonhos, que sempre me é tão receptivo. Os cabelos condensados em uma massa homogênea e, do canto esquerdo de minha boca vertiam sinais de um sono muito profundo também visíveis na fronha do travesseiro. Na cabeceira da cama, aos meus pés os "shorts" que usei na noite anterior, do lado direito, próximo a minha mão que pendia junto ao chão, meus chinelos Havaianas denunciavam a tradicional "caminhada" pela cama durante a noite, aquela que agente nem percebe que mudou de lado de tão dopado pelo sono. Pois bem.

Convencido pelo relógio de que não é possível repetir a função soneca pela décima quinta vez, me vi obrigado a levantar. Puxei os "shorts" com os pés e os vesti já pondo os pés pra fora da cama. Levantei-me e num último espasmo saltei aquele maravilhoso bocejo. Estalei as costas e comecei o dia com o pé... esquerdo. Cara, juro que não sou supersticioso, mas se existisse um culpado por aquela bosta de dia foi o raio do pé esquerdo!

Começou quando ia descendo as escadas com a intenção de ir à cozinha fazer café. Meu pé direito rancoroso que só ele achou por bem ir de encontro violentamente à beirada da porta que dá acesso à escada e rolei pelos degraus. Por fim cheguei à cozinha praguejando e fazendo uso de todo léxico de baixo calão que conheço. É engraçado, agente não faz ideia de quantos palavrões conhece até que surgem tais oportunidades para usá-los. Recompondo-me coloquei a água para o café no fogo e, ao analisar meu estado conclui que um banho era indispensável para reanimar os ânimos e lá fui.

Um banho quentinho de manhã é sempre muito bem-vindo. A sensação de proteção aconchegante que água morna proporciona até lembra o edredom que ficou na cama, o sabonete com aquele perfume que te anima santos remédios para aliviar o estresse acumulado ou recém adquirido, faz esquecer-se de tudo, da água no fogo então, nem se fala. Se não fosse a fumaça entrando por baixo da porta nunca teria lembrado. Saí às pressas do banho, do lado de fora uma nuvem densa parecia ter invadido todo o ambiente e, se eu não passasse tanto tempo fora de casa, não precisaria ter lembrado onde ficavam todos os móveis da cozinha através do contado direto entre eles e minha canela. Abri as janelas e as portas a fim de deixar a fumaça sair enquanto fervia nova água e colocava gelo nos hematomas.

Enfim consegui tomar café, me vestir e sair de casa, mas não sem antes ligar para a repartição e avisar que chegaria um pouco tarde devido a eventos cuja culpa não me pode ser imputada, eram culpa do meu pé esquerdo que, teimoso se adiantou em relação ao direito quando acordei. Foram bastante razoáveis, reconhecem a importância de começar bem o dia e um atraso de duas horas não é lá grande coisa.

Sabia que não era possível mudar meu estado de atrasados para pontual naquele dia, então desci minha rua tranqüilamente. Eu tenho uma tese que gostaria de compartilhar: quando se sai de casa atrasado não adianta muito correr porque o único jeito de voltar no tempo é, segundo tio Einstein, se mover na velocidade da luz e eu nunca passei dos 10 km/h numa reta. Graças a essa tese os meus atrasos são uma oportunidade de apreciar o mundo a minha volta e os detalhes que formam esse mundo. O grande milagre não está só nas grandes coisas, mas também nas pequenas que as constituem (nossa! bonito isso).

Sempre tem um cachorro nas redondezas que é considerado matador e, justamente quando seu dia não começou direito...

Depois eu termino...

Até.

Para ver o fim desta pequena anedota clique aqui.

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ke ki tu axô...