quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Pollock



Eyes in the Heat
 
Disseram-me uma vez que aí há harmonia. Veementemente discordo. Harmonia é exatamente o que não há nas telas de Pollock. E mesmo que este jure buscá-la e alcança-la, não a encontrou. Contudo suas telas trazem a imagem que veriamos se para dentro da alma nos voltassemos. Elas retratam o coração do ser humano, desorganizado, desformado, desarmônico. O que me inclina mais a essa possíbilidade é o fato de frequentemente os guadros desse artista serem enormes. Não é tarefa para pouco espaço pintar a imagem da alma humana.

Jackson Pollock, nº 8 – detalhe, Óleo sobre tela, 1949


 

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Baratas

Depois de casado, me mudei pra uma casa no mesmo bairro que eu já morava. Saí da casa de meus pais, atravessei a rua, dei mais dez passos e entrei na primeira porta que vi aberta. O aluguel é barato, e um barato tembém são as nossas vizinhas baratas. Eu não sabia que no mundo existiam tantas!

Como toda mulher, minha esposa tem o mais completo nojo, horror e abomina esse bichinho. Não sei se é necessário dizer, mas a cada aparição de uma de nossas "amigas", os gritos são ouvidos até pela velha surda, vizinha nossa. Na tentativa de resolver o problema dos gritos, compramos não uma mordaça, mas um iseticida daqueles que aparecem na TV, à base de água.

No inicio era até um pouco engraçado. Agente via o bicho, pegava o spray e toma na cara dele. Depois de uns cinco minutos jazia um cadáver estirado no chão depois de muito se debater e espernear. Mas sabe-se lá por que razão, o veneno não estava mais fazendo efeito. Agente acertava na cara do bichinho o jato de veneno, mas faltava pouco a barata pedir um pedaço de sabonete e um retalho pra tomar um banho. Foi assim até semana passada. Descobrimos num lugares condido da vista do público, longe das prateleiras e dos corredores de supermercado "O Veneno".

O rótulo chamou nossa atenção logo de cara. Nele, caida já sem vida, uma barata que tinha cara de ter sofrido uma morte instantânea, indolor e inodora. Também no rótulo agente lia um monte de avisos do tipo manter longe do alcance de crianças, dos olhos e da pele, use proteção contra radiação e passe bronseador. Quando agente chegou com esse troço em casa, só a presença dele no recinto já causou um reboliço. Sacolas se mechendo, sons de patas por baixo dos móveis, descarga sendo puxada. Agora com ele em casa é só aparecer uma desavisada que agente saca a lata e, depois que é esta vislumbrada pela futura vítima, a barata ajoelha-se e junta as patinha num pedido de clemência. Nem sempre funciona.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Fazia tempo!

Acredito que quem tem o hábito de escrever sinta-o quase como uma necessidade vital. O ato de limpar o sotão da mente e expor aos outros as "achações" que te dominam e, as vezes, te tiram o sono é alguma coisa tão latente em algumas pessoas que as fazem querer mais que seu texto seja escrito do que, necessáriamente, lido. Um escritor (ou cara com muitas idéias que não se ache merecedor desse "título") quer o texto escrito, caso contrário não seria um escritor, mas se contentaria em ser um leitor e não se daria ao trabalho de laborar à frente de uma tela ou papel, abrindo espaços na mente, buscando, em meio a um monte de poeira, ideias já tidas e quase esquecidas.

Fazia tempo que eu não o fazia, digo, escrever. Não o fazia bem mais por preguiça que por outras razões. As ideias vinham, mas não eram tiradas do lugar escondido no qual se encontravam. E quem às conhece sabem como essas ideias são extremamente difíceis de serem mantidas vivas, ou ao menos presentes a ponto de podermos consulta-las quando nos der vontade. Resultado da equação ideia menos exposição, igual a perda completa, ou conjunto vazio para se mais alusivo. E quantas eu perdi! E o pior de tudo, quase perdi o hábito de escrever.