Lembro que quando criança tive alguns bichinhos de estimação, ainda tenho hoje - quero dizer, minha família os tem. Tive um cachorro cujo nome mais apropriado para ele que eu consegui foi Setembro, referência ao mês que o ganhei. Setembro morreu no mesmo mês dois ou três ano depois. Como não me foi dada a causa mortis considerei que ele tinha morrido de velho. Acho que já tinha enjoado dele e que já estava vivendo mais que a maioria dos cachorros. Na lápide improvisada para o velório dizia: "Setembro, bom cachorro! Morreu de velho". Uma cena triste que contou com minhas primas e meus irmãos para carpir o bichinho.
Um mês depois de ganhar Setembro consegui de uma arapuca armada no quintal de casa um sabiá do papo amarelo. Nunca fui muito bom com nomes, então decidi que o mês também seria o nome do sabiá. Outubro foi bastante cantador, até demais pro meu gosto. O bicho me deixava injuriado quando cismava em cantar pela manhã bem cedinho, sem contar que fazia uma sujeira danada. Meu avô dizia que Outubro tinha voz de sabiá e alma de pato.
Setembro e Outubro não se davam muito bem. Era o cachorro se aproximar que o sabiá se desesperava em bateres de asas alucinados, e era o cachorro ressonar sob a jaqueira do quintal que o sabiá danava a cantar. Pura implicância de bicho - minha mãe dizia.
Cansei-me de Outubro mais rápido que de Setembro. Talvez pelo contato direto e constante com o animalzinho e dele ser incapaz, ou estar incapacitado, de limpar a própria gaiola (Setembro pelo menos fazia no mato) sem contar a cantoria pela manhã. Saltei o bicho uns dois meses depois de tê-lo pego, em dezembro. Presente de natal pra ele e pra mim, também. Livrei-me de limpar a gaiola, mas, talvez por gratidão, Outubro sempre vinha cantar com alguns amigos que fez todas as manhãs perto da janela de meu quarto, sobre a jaqueira onde embaixo sempre estava Setembro dormindo.
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ke ki tu axô...