sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Sobre Escrever

Não sei o que quero com esse texto que se mostra a sua frente nesse instante. Quem, na verdade, quer alguma coisa é você, que se propôs a perder seu precioso tempo com essas linhas escritas com vazio de uma mente que não tem o que dizer. É seu desejo, simplesmente, que te mantém frente a frente comigo, nesse momento, a fim de que retirares algum proveito desse encadeamento de vocábulos. Sendo esse querer não meu, mas seu o motivo da leitura desse texto, o que motiva então a escrita? Posso, então afirmar que quem escreve, na verdade, é você?

Não sei para onde vamos. Comecei, simplesmente, e chegamos até aqui, eu escrevendo e você lendo. Mas não sei de abição alguma que eu tenha, não tinha um começo pré definido, não sei se tenho um fim já pensado. Sei, contudo, que estamos aqui, eu na sua frente e você na minha, para mim você como existência imaginária, e eu pra voê, como uma sequência de letras agrupadas a esmo sem motivos quaisquer pré-definidos. Há , contudo, uma serteza que não se pode negar, não quanto a mim, mas quanto a você que não diz respeito há onde vamos, mas onde você está. Você está na frende desse texto, já eu, sei lá.

Talvez tantas incertezas tenha te feito deixar de lado esse texto algumas linhas atrás como uma qualquer coisa que não te acresenta nem lhe subtrai nada. Tavez essa ausência de motivos definidos tenha inibido todas as vontades existentes em você e aguardas, no próximo parágrafo, o que não setá dito. Digo que não espere, que não aguarde que eu diga o que você já disse a si mesmo. Pode ser que, daqui a algumas linhas, resova contar uma história qualquer, sobre um aspirante a escritor que, não tendo o que escrever, simplesmente começou um texto esperando um fim para uma história que ele não conhece. O fato é que não é essa uma história, não é essa uma narrativa, então, se quero alguma coisa, não está assumindo um formato narrativo corriqueiro. Mas não quero contar uma história, não sei o que quero com esse texto.

Depois de nada dizer, chego a conclusão de que não saimos do mesmo lugar, se cheguei a alguns lugar esse lugar ainda se mantém à sua frente de onde não saí desde que te disse que não sabia o que queria com esse texto. Mas não somos mais os mesmos.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Generalizando

Cheguei em casa mais cedo hoje, e como de costume fui conversar com minha irmã que assistia tevê.

- Só tem homem feio na Fazenda.

O meu estranhamento diante dessa frase foi imediato, ainda a considero uma menininha de 12 anos, e ela é de fato, uma menininha de 12 anos.

- Ai, o Xuxa é lindo!

Não entendi, achei que ela tinha dito que não tinha nenhum homem bonito no programa.

- Ai, o Maurício é lindo também.

Dois pontos pra ela. Resolvi não questionar.

sábado, 7 de novembro de 2009

"Quando tenho tempo..."

Tentado por um amigo há aprender um pouco sobre arte, travamos uma conversa onde o questionei sobre os motivos que o leva a pintar. Qual não foi a minha surpresa quando, com a maior sequidão do mundo, ele me respondeu: “Pinto quando tenho tempo. Pergunto pra mim mesmo se agora tenho tempo pra pintar, caso a resposta seja sim, junto meus pinceis e tintas e ponho a mão na massa.” Esperava uma poetização da arte, uma dissertação sobre o ato de pintar, sobre a criação artística, o que fosse. Mas não, recebi um simples “pinto quando tenho tempo”. Pus-me a queimar a mufa a fim de compreende como aquele ser, que me parece tão apaixonado pela arte, simplesmente via a sua expressão artística como, simplesmente, coisa pra se fazer quanto não se tem o que fazer. Acho que agora entendo o que ele queria dizer.

Pintar por si só é um fazer trabalhoso e que demanda certo preparo antecedente. Há a necessidade de compreender o que se quer transmitir a fim de transportar esse conhecimento para a ponta do pincel e dar forma através da tinta. É na tela que se expressa o conhecimento adquirido, a impressão recebida, a forma de pensar algum assunto. É na tela que se gasta o tempo que não se pode ser interrompido por nada com risco de perder a inspiração. Caso o Clovis (o amigo e o pintor na foto) fosse dizer o que quer dizer esse “pintar quando tenho tempo” acredito que ele diria isso. As telas dele me transmitem essas sensações e pra isso tem que ter tempo.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Coisas de bicho...

Lembro que quando criança tive alguns bichinhos de estimação, ainda tenho hoje - quero dizer, minha família os tem. Tive um cachorro cujo nome mais apropriado para ele que eu consegui foi Setembro, referência ao mês que o ganhei. Setembro morreu no mesmo mês dois ou três ano depois. Como não me foi dada a causa mortis considerei que ele tinha morrido de velho. Acho que já tinha enjoado dele e que já estava vivendo mais que a maioria dos cachorros. Na lápide improvisada para o velório dizia: "Setembro, bom cachorro! Morreu de velho". Uma cena triste que contou com minhas primas e meus irmãos para carpir o bichinho.

Um mês depois de ganhar Setembro consegui de uma arapuca armada no quintal de casa um sabiá do papo amarelo. Nunca fui muito bom com nomes, então decidi que o mês também seria o nome do sabiá. Outubro foi bastante cantador, até demais pro meu gosto. O bicho me deixava injuriado quando cismava em cantar pela manhã bem cedinho, sem contar que fazia uma sujeira danada. Meu avô dizia que Outubro tinha voz de sabiá e alma de pato.

Setembro e Outubro não se davam muito bem. Era o cachorro se aproximar que o sabiá se desesperava em bateres de asas alucinados, e era o cachorro ressonar sob a jaqueira do quintal que o sabiá danava a cantar. Pura implicância de bicho - minha mãe dizia.

Cansei-me de Outubro mais rápido que de Setembro. Talvez pelo contato direto e constante com o animalzinho e dele ser incapaz, ou estar incapacitado, de limpar a própria gaiola (Setembro pelo menos fazia no mato) sem contar a cantoria pela manhã. Saltei o bicho uns dois meses depois de tê-lo pego, em dezembro. Presente de natal pra ele e pra mim, também. Livrei-me de limpar a gaiola, mas, talvez por gratidão, Outubro sempre vinha cantar com alguns amigos que fez todas as manhãs perto da janela de meu quarto, sobre a jaqueira onde embaixo sempre estava Setembro dormindo.

domingo, 1 de novembro de 2009

Sobre a Loucura - Parte 1

A vida não é vista por todo mundo da mesma maneira, muitas coisas são diferentes dependendo dos olhos que vêem, dos ouvidos que ouvem, do olfato de que sente o perfume. Meu verde não é o seu verde, nem o pão tem o mesmo gosto para todos ou a rosa o mesmo perfume. Agora eu sei disso.


Acordei, certa manhã, tomado pelo pensamento de que cada pessoa é um percepção diferente do universo, e essa ideia me perseguiu por alguns dias. Eu queria saber se possuía as mesmas sensações que meus semelhantes, idênticas em sua essência. Tomado por tal curiosidade submergi em meus pensamentos a fim de obter respostas. Afinal, meu mundo era o mesmo que todos percebiam ou não havia apenas um mundo, a quantidade de mundos era igual ao número de pessoas vivas ou mortas? Fui tomado de meu mundo a fim de responder a essa pergunta, enclausurei-me em pensamentos em busca dessa resposta. Meu quarto pouco mobilhado foi minha prisão física, o desejo de solucionar essa questão foi a clausura da minha mente. Muitos dias são os meus em outro corpo, muitos dias são o que me proporcionou a vida a fim de entendê-la de maneira suprema, como o próprio Criador a compreende. Bendita a ignorância. Por favor, não me pergunte como, eu mesmo ainda me faço essa pergunta sem obter resposta satisfatória.

Levantei da cama no dia seguinte com um desconforto insuportável por todo corpo, a sensação de ter alguma coisa me tocando era extremamente desagradável, semelhante a milhares de patinhas andando por sobre minha pele. Formigas de certo – pensei a princípio. Estava vestindo um pijama que, mesmo sendo bastante largo, tocava em mim proporcionando tal desconforto. Era um pijama velho que só reconheci devido aos rasgados na calça, bem na altura dos joelhos e na costura do fim do braço. Quando o comprei ele era amarelo e se manteve assim até a noite anterior, quando o vesti, mas naquela manhã era outra sua cor. Não pude discernir qual, nunca a tinha visto em nenhum lugar antes, e como brilhava! Tudo brilhava. Tudo, do chão ao teto, dentro e fora da janela, através das grades, como se uma lâmpada existisse dentro de cada objeto, cada mobilha, cada coisa independente do que fosse, e que cores. Que cores! Nunca em toda minha vida as tinha visto, e minha mente não acreditava ser possível concebê-las, fizeram com que esquecesse - ou me acostumasse - ao desconforto que o pijama me causava. Sentia, também, meu olfato diferente, sensível a determinados cheiros os quais eu evitei cobrindo com um pano. Os odores que senti em nada me lembraram os que eu conhecia, eram menos agressivos, mais agradável. Sem dúvida era outro universo de sensações.

Meus olhos ardiam e minha mente com dificuldade foi se adaptando àquela overdose de cores sons e cheiros. Num andar cambaleante me dirigi ao banheiro a fim de realizar minha higiene matinal. Livrei-me do pijama pondo-me sob a água morna do chuveiro. Estendi a mão à altura dos olhos a fim de contemplá-la brilhar a minha frente. Nunca um banho me foi tão agradável, não imaginava ser possível tirar tanto prazer da água correndo pelo corpo. Uma toalha enrolada na cintura e outra sobre os ombros, com os cabelos para trás, me dirigi à frente do espelho - àquela altura o desconforto causado pelo contato com o que fosse já não existia pelo contrário, causava-me satisfação. O vidro embaçado foi tocado pela minha mão então pude perceber do que se tratava e o quão profundas foram as mudanças ocorridas em mim. Não era meu rosto que estava me olhando de volta no espelho. Não era eu. Tinha mais idade, a experiência estava estampada nas feições do rosto nas rugas das mãos. Os olhos não eram os que eu lembrava como meus não tinham a mesma jovialidade da noite anterior. De certo, não era eu aquele na minha frente. Diverti-me com essa constatação. Agora eu sabia que há universos diversos, diversas maneira de perceber o mundo. E como eram boas as sensações que eu experimentava naquele corpo senil.

Passei o dia divertindo-me com aquela nova maneira de existir. Suas cores e sons, o tato e a voz, a visão em milhares de novas cores, mesmos objetos, mas, meu Deus, que cores! À Certa hora senti fome e vi sobre o criado mudo um pequeno recipiente plástico contendo a sopa que eu não tomara toda na noite anterior. Sorvi-a por completo. Confesso que o gosto não me agradou muito. Não pude inferir de que, era não era familiar nem mesmo similar ao que eu já experimentara até aquele dia, mas saciou minha fome. Continuei a “brincar” com meu novo corpo e seus sentidos, claro limitadamente devido à idade que ele apresentava. Decidi ir do lado de fora, na rua para ver o que mais poderia experimentar, mas não foi possível, a porta havia sido trancada por mim na noite anterior e não me lembrava onde estava a chave. Revirei todo o quarto, mas não a encontrei. Não importava. Mesmo da janela pude ver através das grades o mundo e senti-lo como nunca o havia sentido antes. Como o mundo era vivo a partir daqueles olhos, e que cores!

Dias sucederam-se sem que eu me desse conta. Dias e noites que traziam seus odores e sabores pelo ar. Minha chave encontrava-se desaparecida ainda, e, por mais que eu a procurasse, mão a encontrava. Comecei a duvidar se a encontraria um dia, mas pouco me importava onde estava. Um dia, quando não a estivesse procurando, num salto que eu desse e caísse no chão a veria embaixo do carpete ou da cama. Contudo o fato mais curioso é que o recipiente plástico sempre continha sopa a partir de uma determinada hora, eu não encontrava explicação para esse fato, apesar disso não me alarmei. Não importa muito de onde vem o alimento quando se esta com fome. Cumprem-me contar o que ocorreu certa tarde, quando só era possível ver a irradiante luz do sol e sentir o seu cheiro sem que fosse possível diviza-lo no horizonte. Quando me dirigia ao banheiro para meu banho vespertino, vi muito de relance o recipiente plástico de onde eu me alimentava ser posto sobre o criado-mudo juntamente com um naco de pão. Não vi quem o colocou. Vi somente um braço e nada mais. Do banheiro, me dirigi ao quarto e tive a certeza de ouvir a porta ser trancada. Olhei pela abertura da porta para o lado de fora, mas não vi nada a não ser a parede do outro lado do corredor com um retrato de Freud.

Perdi o gosto por aquele corpo com o passar do tempo e queria voltar para minha original forma, queria ser como eu era antes, quem eu era antes. Minha fascinação estava se convertendo em minha mais completa prisão e sofrimento. Os sabores estavam me provocado asco e os odores, ânsias nauseantes. Sentia dores de cabeça insuportáveis devido ao bombardeio de luzes e intensidade das cores. Era eu naquele corpo, minha consciência que o habitava, os recursos fisiológicos não eram suficientes para suprir as necessidades ou superar as limitações adaptativas da minha consciência. O desespero não demorou a se manifestar. Gritos clamando por liberdade, tentativas inúteis de derrubar a porta e intermináveis noites se sucederam ao que para mim pareceu infinitamente. Numa das tentativas de arrombar a porta vi lá fora meu maior desejo, o que resumia a um tudo o que eu mais queria naquela situação, vi a mim mesmo. Não a mim como consciência, mas como corpo, a outra parte do meu ser.


Continua...