Por favor, faça o seguinte exercício de imaginação comigo: você, um estudante e trabalhador, morador da Baixada Fluminense ou da Barra da Tijuca, que também tem um trânsito de dar inveja à Av. Brasil, acorda cedo pra caramba e tem como mal hábito pegar ônibus pra voltar casa depois de um dia de trabalho e exaustiva aula de, digamos... linguistica pra ficar cansado no ponto certo; você que não vê a hora de chegar em casa, mas se contentaria com aquela aconchegante poltrona de ônibus pra adiantar um cochilo e terminar o que foi interrompido a cerca de vinte hora atrás: seu precioso sono.
A espera termina e seu corpo devidamente acomodado já começa a perder os sentidos e aquela gostosa sensação de "sono chegando" toma conta de você. O silêncio que não é completo, mas é suficiente, predomina no ambiente. Você prestes a dormir as próximas duas horas, a recuperar parte do sono perdido e, quem sabe, voltar a sonhar com aquela morena(o) que não sai da sua cabeça e...
TÔ FICANDO ATOLADINHA! TÔ FICANDO ATOLADINHA! TÔ FICANDO ATOLADINHA! TOMA TOTOMA, TOMATOMA, TOTOMA TOMA!
O cidadão do seu lado também morador da Baixada (provavelmente de Queimados ou Nilópolis, diga-se de passagem) resolve que aquele é o momento ideal para desfrutar dessa pérola da MPB e, muito solicito, resolve compartilhar com você, brindando seus ouvidos com tamanha eloquência e arranjos musicais a partir de um aparelho celular.
TÔ FICANDO ATOLADINHA! TÔ FICANDO ATOLADINHA! TÔ FICANDO ATOLADINHA! TOMA, TOTOMA, TOMATOMA, TOTOMA TOMA!
Para que sua imagem não fique ligada a de um ser humano violento e descontrolado, seus músculos são dominados pela sua mente afim de evitar àquele cidadão experimentar como seria a sensação de ter seu celular atravessando seu orifício anal e, resoluto em manter essa postura, o sono é convidado a retornar. Seu companheiro de viagem interpreta esse fato como sendo a manifestação de tédio e, para livrá-lo desse sentimento comete a grande asneira, burrice, idiotice, infâmia de aumentar o som que você considerada como sendo impossível de ser mais irritante.
TÔ FICANDO ATOLADINHA! TÔ FICANDO ATOLADINHA! TÔ FICANDO ATOLADINHA! TOMA TOTOMA, TOMATOMA, TOTOMA TOMA!
Já é insuportável ler esse negócio grande desse jeito (sem duplo sentido, por favor) ouvi-lo então trata-se de uma das mais desumanas torturas que eu consigo imaginar. Esse pensamento te leva a supor que tal cidadão será razoável (não me pergunte o que te levou a essa conclusão) e muito polidamente:
-Amigo você pode abaixar um pouco o som??? Essas palavras lhe soam mais educadas que seu o "amigo" mereça.
TÔ FICANDO ATOLADINHA! TÔ FICANDO ATOLADINHA! TÔ FICANDO ATOLADINHA! TOMA TOTOMA, TOMATOMA, TOTOMA TOMA! (Berra o aparelho!!!)
Os olhares se encontram e seu "vizinho" (imagine-o como desejar) usando o cérebro já danificado que possui reconhece que essa reação de sua parte significa que a musica não agrada a todos e... e... e...
BOTA NA MÃO, BOTA NO PÉ BOTA SE QUIZER E TOMA TOTOMA TOMATOMA TOTOMA
BOTA NA MÃO, BOTA NO PÉ BOTA SE QUIZER E TOMA TOTOMA TOMATOMA TOTOMA
ele muda de barulho!!!
Você resoluto em manter sua postura de estudante e trabalhador bem educado até porquê já dormiu em situações piores, tenta a tática de "fingir-que-não-está-ouvindo" e mergulha o rosto entre a janela e seu ombro. Demora cerca de quinze segundos para que você perceba que isso não deu o resultado desejado.
-Amigo, é possível que você diminua o volume?!?!?!Sua voz sai um pouco mais ríspida dessa vez
-"Us" incomodados que se "mude"!!!! Responde ele com evidente ar de desdém nos olhos.
"Incomodados que se "mude""?!?! "Incomodados que se "mude""?!?! Essa frase se repete na sua mente como se expressasse alguma coisa muito errada além da concordância:
-NÂO!!! "Os que incomodam que se mudem"!!!- nesse pondo você já está de pé na frente do sujeito com o dedo na cara dele e ele de pé na sua frente.
BOTA NA MÃO, BOTA NO PÉ BOTA SE QUIZER E TOMA TOTOMA TOMATOMA TOTOMA
BOTA NA MÃO, BOTA NO PÉ BOTA SE QUIZER E TOMA TOTOMA TOMATOMA TOTOMA
Primeiro: xingamentos, empurrões, depois socos e três minutos de tentativas por parte dos outros passageiros de te largar do pescoço do infeliz!!! Sente-se a freada brusca do coletivo no meio da Av. Brasil e o barulho de vidro quebrando de uma das janelas de emergência que fora ativada, vê-sê a figura de um rapaz com camiseta da UERJ correndo em meio ao tráfego e no chão um louro de sobrancelhas negras, olho roxo e bermuda da HBS pelos joelhos, virado de bruços com o "culular" gritando (o "culular"):
TÔ FICANDO ATOLADINHA! TÔ FICANDO ATOLADINHA! TÔ FICANDO ATOLADINHA BOTA SE QUIZER E TOMA TOTOMA TOMATOMA TOTOMA!!!!!!