sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Lágrimas

Poucas vezes chorei na vida depois de adulto. Para dizer a verdade, duas vezes: a primeira quando meu avô se foi para sempre e a outra foi hoje na formatura de minha mãe. Ambos acontecimentos são profundamente importante para mim. O primeiro devido a despedida de uma pessoa muito importante na minha infância, o segundo por ser a afirmação de uma ideia que se alimenta na minha mente desde que essa mulher fantástica, que é Dona Iara, retornou às salas de aula, a ideia de que, se houver esforço e determinação, tudo é possível.

Chorei por causa do tremendo orgulho que tive ao vê-la receber o canudo e por lembrar do caminho que ela percorreu até chegar aquele instante. Lembranças, lembranças e lembranças. Lembranças de quando ouvindo-a ler em voz alta no quarto, da sala perguntei se ainda estava aprendendo. Lembranças de quando foi  matricular-se na atiga quinta série fundamental descobriu que teria que voltar dois anos por causa da perda do comprovante de escolaridade quase completamente destruido numa inundação na escola onde estudava. Lembrança de vê-la  fazer uma viagem de seis horas até onde morou na infância para pegar o hitórico escolar. Lembrança de vê-la às quatro da manhã lendo um texto onde se basearia uma avaliação daquele dia, de recebê-la em casa depois de um dia de trabalho e de aula que, gerealmente, eram frequentados depois de um percurso de quarenta minutos feito a pé.

Nâo tiramos fotos com ela, nem eu, nem meus irmão, que não só testemunharam as mesmas coisas que eu, mas que comartilham do mesmo orgulho. Fotos para que se na lembrança quardamos imagens reais de um momentos que não só serão uma marca nas nossa vidas, mas que também são, e sempre serão, inspiração a prosseguir? De fato, é ela o presente de Deus mais valioso que recebi: o exemplo.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Traição

A chave gira, abri-se a porta, no chão, com um chute, um envelope voa, um envelope pardo como deveria de ser. Antes de dizer o que ele contém, é melhor que conte de onde veio ou o que importa sua presença.

***

-Siga-os. Quero saber tudo o que fazem. Se jogarem um papel no chão quero documentado - desligou o telefone e assim foi feito.

Por duas semanas nada foi tão seguido quanto os dois amantes. Isso rendeu boas fotografias que fizeram parte das provas do adultério. Mas antes seria necessário esclarecer certos aspectos:

- Já disse pra não me ligar, temos dias certos pra fazer contatos e não admito que sejam ignorados.

- Sei disso, mas ficamos de acordo, que dependendo da urgência, eu tomaria a iniciativa do contato.

- E do que se trata?

- Tem alguma coisa muito estranha nos alvos: o homem, devido aos hábitos, me parece solteiro, e tenho certeza de que a mulher é casada.

- Não te pedi para levantar hipóteses, te contratei para seguir duas pessoas e gerar provas de que mantém um relacionamento, e é o que quero que faça.

Assim foi feito. Sem mais perguntas o trabalho foi cumprido e o "material" foi entregue, tudo muito anonimamente, sem nenhum contato direto. Deixadas numa caixa postal de onde, só dias depois, foram retiradas e postas sob a porta de um apartamento.

***

Reclinou-se e pegou o envelope que tinha o nome dele, as fotos que viu lhe diziam o que seu coração a muito suspeitava sobre ela. Junto dentro uma aliança com o nome dele e, numa folha de papel, três palavras manuscritas: "Quero o divórcio!". Largou o envelope de lado, sob a mesa e foi passar um café. Ela não queria conta-lo, mas queria que soubesse.